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PIB muito provavelmente crescerá menos em 2024 do que em 2023, Ainvestimentos continuarão escassos, Selic talvez caia um pouquinho abaixo dos 10%

A expectativa deste ano é para crescimento modesto no setor de bares e restaurantes. Foto: Canva

Uma boa forma de começar a falar de 2024 é fazer uma breve resenha sobre como está terminando 2023.

E não dá para falar de 2023 sem falar de uma enorme aparente contradição entre os fundamentos que movimentam o Foodservice e o que realmente aconteceu. Vamos lá:

De um lado, os fundamentos soprando ventos a favor do crescimento:

• Atividade econômica com um crescimento razoável, com o PIB beirando um crescimento de 3% no ano, apesar de considerar que o Agro é o grande puxador desse PIB, o que não promove tanto crescimento no Foodservice.
• População ocupada resilientemente na casa de 100 milhões de pessoas, já há um ano orbitando nesse patamar, que é o maior da história.
• Desocupação em limites baixos para nossos padrões (abaixo de 8%), os menores em muitos anos e com algumas regiões já em situação clara de pleno emprego.
• Rendimento da população em recuperação e crescimento, em boa parte por conta da desocupação baixa.
• Ou seja: população ocupada alta e rendimento em alta significando aumento da massa de renda, também batendo em limites máximos históricos.
• E para fechar o quadro positivo: nos últimos meses os consumidores estão manifestando crescentemente sua intenção de consumir!

Ou seja, até aí, parece tudo bem e inspirando um ano de crescimento interessante no Foodservice. Mas aí a realidade mostra sua outra face:

As famílias estão endividadas: ao longo do ano, entre 75 e 80% das famílias se dizem endividadas; em algumas regiões, 40% das famílias dizem que já estão com contas em atraso e boa parte delas afirmando que não conseguirá pagar todas suas contas.
• Nem vou perder tempo falando do quanto não ajudam os juros altos, que fecharão ainda acima de 11% a.a. na Selic, (mas superando 50% nos cartões de crédito das Pessoas
Físicas) e inviabilizando projetos e ímpetos de investimentos.
• Além disso, há uma outra situação, um tanto invisível, a ser considerada: as famílias estão incorporando mais e mais gastos recorrentes ao seu orçamento (streaming, espaço
em disco, banda larga, apostas em esportes, personal trainer) e gastos relevantes em momentos como Black Friday, que comprometem a disponibilidade do consumidor.
• Dessa forma: seja por conta de dívidas (onde o cartão de crédito é o maior filão e vilão), seja por conta das contas crescentes contratadas, a renda disponível para o consumo discricionário está muito limitada. E em que esses dois lados do 2023 se encontram, o que esse encontro promove e quais os impactos no movimento do Foodservice?
• 2023 começa com um primeiro trimestre com forte (mas ilusório) crescimento frente ao mesmo período de 2022. Por que ilusório? Porque estamos comparando meses normais em 2023 com meses anormais de 2022 (impactados pela Ômicron e pelo início da guerra na Ucrânia); a base de 2022 estava corroída, daí um falso bom crescimento em 2023.
• Após esse 1º trimestre, o ano vem basicamente entre estagnação e pequenas quedas quando comparamos os meses de 2023 com os meses de 2022.

O que explica isso? A tal contradição aparente: há algum crescimento econômico, emprego e renda e até desejo de consumir, mas, no final das contas, os consumidores estão estrangulados em sua capacidade de gastar por sua renda quase totalmente comprometida entre dívidas e gastos já contratados!

Simples assim, limitados assim e, por conta disso, o Foodservice como um todo deve fechar o ano de 2023 com um crescimento real do faturamento entre 2 e 3%, fora a inflação.

Quando falo do Foodservice como um todo, incluo aí não só o Foodservice nos estabelecimentos comerciais (bares, restaurantes, lanchonetes, pizzarias, hamburquerias, padarias etc.), mas também o Foodservice “não comercial”, como cozinhas industriais, refeitórios, merenda escolar, órgãos públicos, refeições hospitalares e tantas outras.

Dessa forma, se dermos um “zoom” apenas nos estabelecimentos comerciais (que representam entre 75 e 80% do nosso mercado), a expectativa de crescimento real no ano deve ser um pouco superior aos 3% previstos para o Foodservice como um todo: podemos esperar um mercado com crescimento real de 4 ou quase 5%.

Pela ótica do consumo, com uma inflação pouco acima de 4%, o mercado cresceu então uns 8 a quase 10% neste ano; pela ótica do abastecimento, com uma inflação média de 2% ou até menos, o mercado cresceu algo próximo de uns 5 ou 6% em 2023. Ano duro, “brigado” etc... formas habituais de os empresários e profissionais descreverem 2023 neste momento.

Mas, falando de 2024, o que há pela frente?

Em primeiro lugar, viramos de 2023 para 24 com um crescimento econômico bem mais modesto, ou seja, o “efeito carregamento” para 2024 é bem modesto; 2024 começa tímido antes mesmo de chegar!

PIB muito provavelmente crescerá menos em 2024 do que em 2023, Agro provavelmente crescerá 0 (versus 15% em 2023), investimentos continuarão escassos, Selic talvez caia um pouquinho abaixo dos 10%. Emprego deve se manter perto do nível atual, talvez um troco acima; renda continuará evoluindo e o desejo de gastar reprimido ainda.

Dívidas e outros compromissos das famílias podem ter algum recuo, mas vale comentar que o Foodservice é dois terços ligado à renda disponível das classes A e B, que pouco ou nada se beneficiam de programas de recuperação de crédito ou de distribuição de renda.

Resumo da ópera: ano com crescimentos novamente modestos no Foodservice!

Nossos modelos falam num cenário moderado de crescimento do faturamento do mercado como um todo, entre 2 e 3% em termos reais; com inflação próxima a 4% novamente, resulta num crescimento nominal de 6 a 7%.

Nos estabelecimentos comerciais, crescimento um pouco maior, entre 3 e 4% de crescimento real, ou seja, um crescimento nominal de 7 a 8%. Pouco para sua expectativa ou desejo de crescimento, não é?

Fazer o quê? Aprimorar estratégias, desbravar novas possibilidades, buscar escala e eficiência, fazer mais e melhor com menos e por aí afora. Sem isso no plano e sem energia e disciplina para executar, pode vir um 2024 até abaixo disso!

*Sergio Molinari é sócio-consultor da Food Consulting. Ele também produz conteúdo para empresários do setor de alimentação fora do lar em seu canal do YouTube; Foodservice com Sergio Molinari.

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