Vamos aqui fazer um exercício preliminar sobre 2022, mas, desde já, queria dizer que será necessário revisar e eventualmente revisar este exercício dentro de alguns meses.
Fica desde já este compromisso de compartilhar esta revisão daqui a alguns meses!
Temos nos aproximado em nossas projeções e expectativas, como foi o acerto quase literal em 2020 e nossa também em nossa revisão de agosto do ano passado sobre o 2021 (quando falávamos em 25% ou ligeiramente mais de crescimento).
Mas confesso que este ano de 2022 é particularmente difícil para estimar seu crescimento (ou queda); para ser sincero, um pouco mais difícil até mesmo que no ano passado, 2º ano de pandemia.
Por que esta dificuldade? Vou tentar detalhar a análise em 2 grupos:
Em primeiro lugar, porque as variáveis que impactam de forma decisiva o desempenho do Foodservice vêm com projeções lá não muito definidas.
Segundo o Relatório Focus do Banco Central, o PIB deve crescer muito pouco (algo como 0,5%), enquanto o Ministério da Fazenda estima em 1,5%, o que não facilita cravar que a atividade econômica empurrará o Foodservice.
O emprego deverá continuar se recuperando, mas o rendimento médio do brasileiro ainda está significativamente baixo, segurando a massa de renda.
Em segundo lugar, porque há um grande cenário de incertezas pairando sobre a atividade econômica e o emprego.
Apesar de que este cenário e a própria incerteza já estão “precificados” nas expectativas de PIB por exemplo, o fato é que dificultam estimar o que pode acontecer se as coisas saírem um pouco melhores ou um pouco piores do que se prevê hoje.
Quando falo de cenário, penso em questões mais gerais do País e outras mais específicas que atingem o Foodservice; temas como:
• Inflação, câmbio, juros, preços dos commodities e quebras de safras, eleições para presidência, guerra entre Rússia e Ucrânia, pandemia etc.
• Custos de matérias-primas, rupturas de abastecimento, escassez de mão-de-obra qualificada, endividamento gerado na pandemia etc.
Mas, vejam bem, outra vez: este cenário todo já está precificado, como eu falei agora a pouco; o que significa que se as coisas correrem um pouco melhores do que prevê nestes vários pontos que citei acima durante os próximos meses, seguramente passaremos a lidar uma reversão de expectativas, passando a expectativas mais positivas.
Para ser sincero, sou mais otimista do que está em evidência na mídia de forma geral, em diversas destas questões, especialmente pensando a partir do 2º quadrimestre e no 2º semestre deste ano.
Só para citar algumas razões para ser mais otimista:
• Recuo da pandemia, se transformando em endemia
• Continuidade do crescimento do número de brasileiros ocupados e recuperação do rendimento individual em curso – críticos para o Foodservice
• Recuperação gradual do rendimento do brasileiro, especialmente à medida que a demanda por mão-de-obra comece a esbarrar na falta de qualificação dos desempregados
• Recuperação do lazer e do trabalho presencial, como se vê pelos indicadores de mobilidade do Google – excelentes para o Foodservice
• Reorganização o supply and demand de matérias-primas e insumos, ao menos em termos melhores do que os atuais
• Câmbio abaixo ou mais próximo de R$ 5,00 do que os quase R$ 6,00 que tivemos alguns meses atrás
E, por mais que seja uma leitura muito pessoal: cenários e projeções em anos de eleições majoritárias quase sempre estão um tanto enviesados; a meu ver, neste momento, este viés é basicamente pessimista e até derrotista.
O que quero dizer com isso – e, ao dizer, assumo um grau de risco um pouco maior do que o normal – é que trabalhamos com expectativas não tão pessimistas e derrotistas quanto as quais estão precificadas por quem faz previsões (bancos e consultorias) e especialmente por quem as divulga.
• Consideramos nosso PIB cresca entre 1,5 a 2% no ano
• Consideramos uma população ocupada que deverá crescer ao menos 2 milhões de pessoas até o final do ano
• Consideramos uma recuperação do rendimento do trabalhador de R$ 100 a 200 versus o ano anterior
• Consideramos um trabalho remoto cairá para menos de 5% da população ativa
• Apesar ser uma variável “negativa”, a inflação será um acelerador do crescimento nominal do mercado
O resultado disso tudo é um Foodservice que deverá crescer em termos nominais acima de 15% em 2022.
Descontando a inflação, estamos falando de um crescimento real entre 6 e 9%, o que já é uma previsão positiva por si só.
Mas, há um comentário a acrescentar: se vier este crescimento (e acreditamos que virá), ainda teremos 8 a 9% de gap a recuperar frente ao maior mercado de Foodservice que já tivemos que foi em 2019.
Ou seja, o Foodservice terá um crescimento bom em 2022 – não maravilhoso, mas pelo menos muito bom – e ainda há bastante a crescer em 2023 e talvez 2024.
Meus amigos, se posso fazer uma recomendação: não é tempo de desacelerar!
*Sergio Molinari é sócio-consultor da Food Consulting. Ele também produz conteúdo para empresários do setor de alimentação fora do lar em seu canal do YouTube; Foodservice com Sergio Molinari