Nas últimas semanas assistimos a um crescente aumento no número de infecções pelo vírus da COVID-19, causado mais especificamente pela nova variante, ômicron. Diante disso, os alarmistas de plantão já iniciam novamente seus esforços para trazer às capas de jornais e programas de televisão a disseminação do caos, estampando em suas manchetes números isolados do aumento, ora desconsiderando a baixa letalidade da nova variante, ora induzindo a necessidade de medidas radicais a respeito.
Nessa esteira, muitos agentes públicos (governadores e prefeitos) já se assanham em novamente voltar ao palco midiático, para impor novas e velhas obrigações (mormente à iniciativa privada), das quais, muitas, já se mostraram repetidamente falhas e ineficazes. Deparamo-nos então com uma reprise de mau gosto do início de 2020, reprise tão ruim que desconsidera qualquer aprendizado básico destes quase dois anos de pandemia.
Primeiramente é importante deixar bem claro que todos os estudos mundiais, dos centros científicos mais respeitados, já consideraram a ômicron uma variante muito mais leve, o que, por si só, já demandaria uma análise de estratégia diversa da que foi vista pelo Brasil desde o início do enfrentamento da pandemia. Dito isto, é necessário novamente que despolitizemos este debate, e que, ainda mais importante, aprendamos com os erros do passado.
Já se iniciam, neste início de 2022, atos administrativos proibitivos e restritivos de toda ordem, a exemplo de alguns Estados e cidades do Nordeste. Alguns proibiram eventos, outros impuseram passaportes sanitários, medidas que se assemelham apenas pela ausência de comprovação de sua eficácia ou mesmo viabilidade. Voltemos então ao início da pandemia.
Naquela época, tanto aqueles que defendiam o famigerado “fica em casa”, quanto os que o combatiam temendo seus efeitos, estavam de acordo que a pandemia iria durar até que se iniciasse uma vacinação, e aí sim, haveria uma imunização de rebanho, quando a convivência retomaria sua normalidade pré pandêmica. Pois bem, veio a vacina, e ainda assim estamos nos embatendo com argumentos políticos e ideológicos desapegados de algumas constatações que deveriam ser prioritárias.
Vejamos o passaporte sanitário, por exemplo. De um lado está o Poder Público na busca de uma exigência por comprovação da vacinação para entrada e frequência nos mais diversos tipos de espaços. Enquanto isso, em outro canto, bradam firmemente que não apresentarão o documento. Ambos os lados esquecem, contudo, que o Brasil é um país que tem um hábito vacinal muito diferente dos exemplos europeus, muitas vezes utilizados para justificar a medida. Somos um país que vacina seus cidadãos desde tenra idade. Isso resulta num índice de vacinação contra Covid de cerca de 85% da população hoje!
A considerar os números oficiais que demonstram que cerca de 10 % da população já foi contaminada com o vírus, temos um resultado de quase 90% da população com algum grau de imunidade. Parece-me claro então que o uso do passaporte ou até mesmo a imposição da vacinação, nada mais são do que um debate completamente estéril, e que vem sendo levado novamente para o centro da arena dos combates de narrativas. Esta comprovação vacinal, a meu ver, se torna então, não apenas uma medida antipática e burocrática, mas completamente inócua.
O que é certo, no presente cenário, é que temos que dar uma chance a vacina e voltar a uma circulação controlada (com cuidados, sem dúvidas), mas na qual possamos ver o comportamento do vírus em meio a uma população praticamente toda imunizada. Na Inglaterra, por exemplo, o Primeiro Ministro já decretou o fim de várias medidas restritivas, incluindo a máscara. Isto, sem dúvidas é coerente com o estágio da vacinação em seu país.
Aumentar as restrições apenas porque houve aumento de casos (comprovadamente mais leves, principalmente em vacinados) é completamente ilógico e, sem dúvidas ignora todo o aprendizado dos últimos dois anos, numa incompreensiva vontade de retornar ao início de 2020.