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Um sabor muito amargo!
Já se passaram mais de 128 dias desde o início desta algazarra comercial e da decisão unilateral de fechamento do comércio, alguns gestores chegam a pensar que a parte mais salgada dessa situação já passou. Mas as únicas certezas que temos é que as dúvidas reinam, as dores se tornaram crônicas, muitos empresários já fecharam as portas e aqueles que continuam lutando para se manter abertos não fazem a menor noção do que lhe esperam no decorrer dos próximos dias e a quantidade de dívidas.

A realidade dos bares e restaurantes é sombria, muito se fala em sobrevivência, muito se fala da falta de aparelhos nas redes hospitalares, mas esquecem de contabilizar a morte de inúmeras empresas que deixaram de prover o sustento de boa parte da população e que faziam parte do sonho de vida de tantas outras. Não se trata de dar baixa em um CNPJ, estamos falando em destruir carreiras, planejamentos de vida e muitos sonhos arruinados. Dizimar uma empresa que demorou para ser construída, acabar com todo o provisionamento financeiro, viver na corda bamba sem saber quando voltaremos as atividades, acumular débitos exorbitantes e problemas neurológicos. Os empresários já não respiram mais por aparelhos, falta oxigênio e estímulos para que estes continuem mantendo o instinto de sobrevivência em alerta.

É preciso saúde, é preciso salvar muitas vidas, não estamos dirimindo a gravidade da situação pandêmica que estamos vivenciando, só afirmo com veemência que precisamos organizar e pensar de fato nas consequências que a ausência da gestão econômica está causando aos que tentam de fato fazer a cidade pulsar novamente. É preciso voltar.

Os descartáveis tomaram conta de tudo, os pratos decorados perderam lugar para os marmitexs, já não temos mais os sorrisos dos garçons, as compras antes feitas em abundancia hoje são feitas em migalhas, nem o motoqueiro desejamos mais receber em nossas casas (pedimos ao aplicativo que deixe na portaria) o tão sonhado fechamento de um caixa ao final da noite tornou-se pesaroso, as únicas coisas que prosperam neste cenário são as cobranças que se avolumam na mesma rapidez com que esse vírus se propaga.

Os abraços que viraram toques de cotovelos não transmitem nenhum aconchego ou amor, faltam comemorações a quem sempre ofertou sorrisos e bons laços, tudo se esfriou quando o digital virou o nosso único meio de contato.

Falta vida, falta entrega, falta carinho, a pimenta deixou de arder e já não sentimos mais o cheiro do alho advindo da cozinha ao final da loja...

Imploramos para que a receita imediata seja cozida com bom senso, respeito, atenção e quem sabe uma pitada a mais de esperança. Além dos pedidos tradicionais em uma mesa de bar, pedimos socorro esperamos uma retomada na mesma proporção que os sorrisos eram trocados entre as mesas, pedimos que não reabra somente as portas mas, condições de uma conta que saibamos o preço do cardápio deste momento que jamais vamos esquecer.
Desejamos mais que um minuto de silêncio, sonhamos em voltar a vender sonhos.



*Pedro Henrique Oliveira é professor, gestor executivo e colunista da revista Bares & Restaurantes

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