O réveillon de 2022 marcará um vigoroso renascimento do setor brasileiro da alimentação fora do lar. Mais do que nunca, a valsa ‘Adeus ano velho, feliz ano novo’ fará tanto sentido. Foi composta há sete décadas, em 1951, por David Nasser e Francisco Alves. Tornou-se a canção tema das celebrações brasileiras de passagem de ano.
“Que tudo se realize, no ano que vai nascer; muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender. Para os solteiros, sorte no amor; nenhuma esperança perdida. Para os casados, nenhuma briga; paz e sossego na vida”.
Depois de ininterruptos vinte meses da trágica e da até agora injustamente irreparada devastação de um quarto dos estabelecimentos (335 mil negócios) e empregos (1,3 milhão de funcionários), cafés, lanchonetes, bistrôs, bares e restaurantes voltam a ser frequentados por um crescente número de clientes.
Isso graças à escalada da vacinação, cuja campanha nacional, a primeira vinda de uma entidade do mundo empreendedor, foi promovida pela Abrasel, com o slogan “Vacina, eu confio”.
A retomada dos estabelecimentos da alimentação fora do lar deu a partida, ligou o sistema de ignição da engrenagem do turismo, em suas múltiplas vertentes (como o ecológico, rural, praiano, religioso, de esportes e aventura, de negócios e eventos), do transporte de passageiros (terrestre e aéreo), de resorts, hotéis e pousadas.
Os cinemas e teatros reabrem as portas. Em muitos bares e restaurantes, que também funcionam como palcos, os cantores e instrumentistas agora recuperam os espaços presenciais de exibição pública.
Bares, lanchonetes e restaurantes reavivam o cenário urbano, reaproximam as pessoas, reacendem as conversas ‘tête-à-tête’, restituem o colorido, a limpeza e a segurança das ruas. Estão presentes dentro e nas vizinhanças de escolas, aeroportos, postos de gasolina, estádios de futebol, parques e praças.
Dão mais cores e movimento à vida cotidiana. Neles outra vez acontecerá o inesperado ‘parabéns pra você, nesta data querida’, cantado na mesa de algum aniversariante, que é aplaudido por todos os demais fregueses da casa.
Ou seja, promovem a arte do encontro, embora, como escreveu Vinicius de Moraes, haja tanto desencontro pela vida. E na vida dos tempos pandêmicos, além dos naturais desencontros, houve cruéis iniquidades e perversões em larga escala, cometidas por considerável número de prefeitos e governadores.
Como se não bastassem os danos inerentes à peste pandêmica, criaram um incessante vaivém de dificuldades, devastando negócios e empregos.
Metade dos estabelecimentos que sobreviveram está carregando sequelas dos danos causados por alcaides de índole autoritária. Temos uma democracia ainda muito imperfeita.
De acordo com levantamento do FMI, governos de 100 países, que adotaram medidas restritas ao funcionamento de bares e restaurantes, apoiaram financeiramente os empreendedores, concedendo-lhes recursos a fundo perdido, assim livrando-os de ter de encerrar as atividades dos seus estabelecimentos.
A Abrasel entrou com medidas administrativas e judiciais, em 27 unidades da Federação, objetivando o ressarcimento dos danos causados pelos atos arbitrários desses prefeitos e e governadores mandonistas.
Na pandemia, aprendemos a fazer muito mais com muito menos. A Abrasel é essencialmente empática e sinérgica. É guiada pelo empreendedorismo e espírito comunitário, pela sóciodiversidade e valorização das diferenças.
Nas conquistas que idealizamos e alcançamos (como a de uma MP dos Salários não só para os bares e restaurantes, mas para, indistintamente, todos os setores da economia brasileira), mostramos ao Brasil inteiro que, em tempo integral, praticamos o seguinte princípio: É preciso somar para ter o que dividir.
Somos empaticamente a voz das ruas, as aspirações da sociedade, um setor que alavanca outros setores. A pandemia elevou a maturidade das pessoas, criou solo fértil para os esforços coesos e sinérgicos. Diante de um esplendoroso cenário de novas possibilidades e de novos territórios, vamos com fé. Porque, como canta o baiano Gil, “a fé não costuma faiá”.
Adeus ano velho, feliz ano novo.
*Paulo Solmucci é presidente-executivo da Abrasel