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Artigo de opinião de Paulo Solmucci, presidente-executivo da Abrasel

O pequeno território do Vale dos Vinhedos, uma faixa de terra nos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul, realizou um Arranjo Produtivo Local (APL) tão bem sucedido que passou a servir de inspiração a todas as regiões da vitivinicultura brasileira. As duas primeiras pilastras do APL foram o lançamento, em 1995, da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale).

No nascedouro da entidade, já se estabeleceu estreita aliança com a Embrapa Uva e Vinho, com vistas a se obter, pela primeira vez no país, o selo de indicação geográfica dos vinhos e espumantes dessa área demarcada. Em vez de ser um clube fechado, abriu-se a associação a uma densa rede de empresas de várias atividades: bares, restaurantes, pousadas, hotéis, ateliês de artes, antiquários, agências de viagem, produção cultural.

Mais do que isso. Estabeleceu-se uma aliança informal - e muito estratégica - com interlocutores fundamentais ao diálogo com a Aprovale e a Embrapa Uva e Vinho. Entre eles estão integrantes destas instituições sediadas ou atuantes na região: as escolas superiores de Gastronomia e Enologia, o Sebrae, o Instituto Brasileiro do Vinho, o Slow Food, o Centro da Indústria e Comércio de Bento Gonçalves, as cooperativas, os sindicatos e os gestores da áreas-chave das prefeituras.

O Vale dos Vinhedos tornou-se o centro irradiador de um modelo desenvolvimentista assentado em bases comunitárias e empreendedoras, tendo como vetores a vitivinicultura e o enoturismo. Esta é uma incontestável prova de que a comunidade é capaz de realizar feitos inimagináveis, a despeito de o organismo empresarial do país estar permanentemente sufocado pelos tentáculos centralizadores, burocratizantes, arrecadatórios e corporativistas do Estado, nos seus três níveis. Chegou o inadiável momento da virada.

Os governadores de bons propósitos empenham-se em tentar convencer a opinião pública de que é preciso desinchar a máquina pública, privatizando o que não faz parte de suas atribuições essenciais (as sagradas áreas da educação, saúde e segurança). Ao mesmo tempo, procuram, em outra frente modernizante, criar condições de atrair investidores privados aos projetos de ampliação e melhoraria da infraestrutura, sobretudo de estradas e saneamento básico.

É na busca desse tempo novo que o governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB) apresentou ao ministro da Economia, Paulo Guedes, a proposta de adesão do Rio Grande do Sul ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), no qual se prevê ajuste de R$ 63 bilhões em três anos. A propósito da atuação de Eduardo Leite, assim escreveu na edição Folha de S. Paulo de 8 de maio o economista Marcos Lisboa, presidente do Insper : “Na contramão dos novos eleitos que continuam em campanha eleitoral fazendo balbúrdia nas redes sociais, o jovem governador fez política da melhor qualidade. Conversou, negociou, ouviu e construiu maioria na Assembleia Legislativa. Para mostrar que não está de brincadeira, começou com o mais difícil e fez uma reforma inesperada e audaciosa. Aprovou a proposta de emenda à

Constituição estadual que retira a obrigatoriedade de realizar plebiscito pra vender empresas estatais”.

Ao receber das mãos de Eduardo Leite a proposta da recuperação fiscal, o ministro da Economia, Paulo Guedes, assim reagiu: "O governador do Rio Grande do Sul herdou uma situação muito difícil, mas está fazendo um ótimo trabalho”. O movimento de virada em direção a um Brasil novo se efetivará com a mobilização comunitária, no âmbito municipal, e com os governos estaduais sintonizando-se ao macro objetivo nacional de um Estado servindo menos a si próprio e muito mais à sociedade.



*Paulo Solmucci é presidente-executivo da Abrasel

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