Notice: Undefined variable: base in /var/abrasel.com.br/revista/site/templates/head.inc on line 68

Por Max Fonseca

Quem me conhece sabe que esta estória não é nova, já me ouviu repeti-la várias vezes, sempre que alguém reclama de banco. Só me voltou à memória por conta de um comercial maroto que um banco fez, comparando o serviço que prestam ao do setor de Alimentação Fora do Lar. Ambos atendem gente, eles vendendo dinheiro, nós comidas e bebidas.

Esta surgiu um dia, quando aguardava por atendimento em uma agência de banco lotada e resolvi procurar um gerente pra reclamar. Minha queixa vinha de encontro à regra legal em muitos municípios brasileiros, que define o tempo máximo de espera no atendimento ao cliente nessas instituições. Mas vá pedir o comprovante disso pra ver se a espera não é ainda maior, isto se emitirem. Nos públicos até se consegue. O tal até ouviu pachorramente, mas não fez absolutamente nada pra resolver o problema e disse que não havia solução. Era esperar e só.

Voltei pra minha posição, no caso uma fila enorme, e comecei a delirar… retumbavam na mente mi- nhas últimas palavras ditas ao gerente, em tom de mero desabafo, ciente que deixariam de existir após zoarem.

Como seria um restaurante se usássemos a lógica de atendimento dos bancos?

Logo na chegada não haveria, naturalmente, uma pessoa simpática e sorridente a nos saudar de forma gentil oferecendo opções de onde nos sentarmos, mostrando as mesas mais arejadas, as badaladas ou discretas. E por aí.

Corta a cena!

O restaurante banco, logo na entrada, teria um cartaz e uma máquina, nada de pessoas. Seguindo as orientações, deve-se pegar uma senha e aguardar, geralmente em pé. Se houvesse a quem perguntar sobre a estimativa de tempo a ser recebido por gente, não responderiam, nunca há previsão, só uma tela, que pisca e mostra novos números, com siglas estranhas pra confundir o fleumático cliente de que sua vez está próxima, mas sempre surge uma nova, com uma sequência diferente da sua, retardando o atendimento, suprimindo a falsa ilusão de que está próximo.

Vencida a primeira etapa, imagina-se que aí será oferecida uma mesa ao cliente e ele poderá ver o cardápio, escolher um aperitivo, pedir algo, nem que seja um copo de água. Nem pensar!

Neste instante, o garçom, em vez do cardápio, traria um formulário para você preencher. Pertinente que tenhamos, não só na mente, mas em documentos oficiais, tudo o que for solicitado, RG, CPF e comprovantes de outrem informando que habitamos algum local do planeta.

Cumprida a primeira etapa, talvez, com muito custo, e se formos identificados com algum potencial maior, nos ofereçam um copo d’água. Café? Mais fácil ganhar na Mega Sena.

Seguindo o baile, somos informados que após a análise inicial, seremos submetidos a aprovação, para daí, sermos atendidos. E isto inclui consultas ao SPC, Serasa, histórico na instituição e outras listas que identificam se você é uma pessoa legal a ponto de merecer ser recebido lá.

Claro que isso leva dias, mas vamos imaginar que é seu dia de sorte e em pouco tempo uma alma caridosa, comovida com sua fome ou sede, resolveu fazer a consulta imediatamente e bingo!, você foi aprovado.

Uia! Mas que beleza! Agora posso ver o cardápio e escolher algo? Ledo engano.

Para iniciar, então, efetivamente o atendimento, vão pedir que você se dirija a outro setor, pegue nova senha, aguarde ser chamado, e vá ao caixa para fazer um depósito inicial. Pronto, você já faz parte do jogo, agora pode ser atendido. Mas é conveniente que seu depósito seja merecedor de confiança suficiente, caso contrário, sem aviso prévio, seu atendimento será encerrado até que novos créditos sejam disponibilizados. Nada de depositar cenzinho e depois querer um espumante premiado.

Acordei no hospital, tomando soro, hipoglicêmico.

*Max Fonseca é jornalista, empresário no setor de bares e restaurante e conselheiro nacional da Abrasel

Comentários