No Brasil, o turismo representa 8% do PIB e forma o segundo setor que mais gera emprego depois da construção civil
O período da pandemia global de Corona Vírus, foi, sem dúvidas, um dos momentos mais desafiadores para o setor de turismo no Brasil e no mundo. De acordo com o Barômetro Mundial do Turismo da OMT, o setor concluiria a recuperação ao patamar de 2019 ainda em 2023, demonstrando um crescimento das viagens muito mais rápido do que a economia em geral.
Com uma perspectiva otimista, o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC) estima que o setor representará mais de 11,6% da economia global até 2033, o que equivaleria a um aumento de 50% em relação ao seu valor em 2019. No Brasil, segundo dados da Embratur, o gasto de estrangeiros no país entre janeiro e julho de 2023 superou a marca do ano de 2019.
Isso mostra o potencial do país e de seu apelo turístico nesse momento que já estamos deixando para trás o foco na recuperação do setor, para mirar nas estratégias de crescimento do setor, conforme apontam os dados internacionais da OMC e WTTC.
Só no Brasil, o turismo representa 8% do PIB e forma o segundo setor que mais gera emprego depois da construção civil. Segundo estimativas da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) , o turismo brasileiro poderia faturar R$ 155,87 bilhões entre os meses de novembro de 2023 e fevereiro de 2024, representando a maior movimentação financeira desde 2012.
O Turismo nacional segue em ascensão, assim como o interesse do brasileiro por viagens, e, enquanto o preço médio das passagens aéreas no Brasil atingiu valor recorde em setembro de 2023, a ANTT demonstrava no último trimestre do ano que os brasileiros estavam viajando mais de ônibus do que no mesmo período em 2022, representando um aumento de 23% nas viagens através deste modal.
O crescimento da demanda por viagens ocorre tanto no aéreo como no rodoviário, a diferença é que o último melhora o desempenho rapidamente, aumenta a oferta, tem alta capilaridade por todo Brasil e acomoda os preços por meio de um vetor chave, a concorrência.
Um estudo da Quero Passagem apontou para um crescimento nas emissões de passagens de 41% em relação ao ano de 2022. Somente as emissões com passagens de ida e volta cresceram 47% em comparação ao mesmo ano. E o que se vem observando é que o KM médio percorrido vem caindo desde 2021, de 437,47 para 391,62 em 2023.
As viagens mais curtas estão ganhando a preferência dos brasileiros. Ou seja, para pensar os desafios e as melhorias no turismo nacional, é importante olhar também para os dados que mostram que o brasileiro tem preferido viagens mais curtas, optando por transporte terrestre, procurado por novos destinos que não exclusivamente o litoral e se preocupando com mais antecedência com as hospedagens.
Mesmo quem está com o orçamento mais apertado, faz viagens mais curtas, mas não está deixando de viajar, seja nas férias, feriados ou finais de semana. O ano de 2024 terá menos feriados prolongados, em comparação ao ano de 2023, mesmo assim há muitas oportunidades que chegam com tendências como:
• A recente dissociação do trabalho do escritório, permite que mais pessoas possam ampliar seus planos de viagens, independente dos feriados, e buscar por cidades pequenas e médias que ofereçam um dia a dia mais tranquilo, cenários históricos e maior proximidade com a natureza;
• Maior procura pelo turismo rural, turismo de base comunitária e turismo ecológico. E o Brasil conta com centenas de unidades de conservação federais, parques estaduais e áreas de proteção ambiental como a da Baleia Franca, em Santa Catarina, que lidera o ranking das unidades mais visitadas desde 2020.
• Maior promoção dos 23 patrimônios da humanidade que ficam no Brasil e dos atrativos nacionais.
• A própria Agenda 2030 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas é uma ferramenta importante à medida que busca promover a agenda do desenvolvimento do turismo por meio da valorização do patrimônio cultural e natural e da economia criativa. Nesse contexto, muitos estudos técnicos e projetos são realizados para munir tanto o setor público como o setor privado de alternativas para atração de turistas.
• Melhor posicionamento do Brasil entre os 20 países que mais recebem eventos internacionais, como solução para sazonalidade de fluxo turístico.
• Crescimento das festas populares do Brasil, que fortalecem a autenticidade da cultura regional e das tradições brasileiras.
• O fortalecimento do Brasil nos eventos internacionais de turismo, no cenário econômico e a oficialização do país para receber a COP-30 em Belém do Pará em 2025.
Também não podemos deixar de lado o papel das redes sociais que ajudaram a trazer o mundo um pouco mais para perto de cada um, gerando o desejo mais intenso por viagens e experiências, por meio de milhões de compartilhamentos e conteúdos gerados diariamente com filtros, avaliações, imagens de impacto e dicas, que tanto favorecem o planejamento das viagens como a via emocional mais aspiracional, também conhecido como fenômeno FOMO (Fear of missing out).
O que vemos e que parece bastante positivo, além do próprio crescimento do turismo brasileiro, é que existe uma oportunidade sem precedentes que conecta o turismo rodoviário, os destinos nacionais e a atração do fluxo do turismo para as pequenas e médias cidades, com suas atrações históricas, culturais e natureza.
*Lukasz Gieranczyk é CEO da Quero Passagem.