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Como em propagandas de pasta de dente, onde nove a cada dez dentistas recomendam tal produto, a esmagadora maioria dos especialistas e empresários do setor de alimentação fora do lar afirma que o sucesso do delivery de bares e restaurantes está intrinsicamente ligado também ao tempo de entrega do produto às mãos do cliente.

O preço e qualidade importam? Evidente que sim. Porém, a importância no tempo de entrega está exatamente na impressão que o restaurante deixará ao cliente. Se ele foi bem atendido e fez a compra com facilidade, mas recebeu o produto com atraso ou danificado, é disso que se lembrará. Qualquer problema na “última milha” pode minar a reputação de um negócio.

É este o famigerado “desafio da última milha”, tão discutido por varejistas. O termo last mile delivery (em tradução literal: entrega de última milha) é definido como o movimento de um produto do centro de distribuição até o destinatário final, ou seja, até a entrega nas mãos do cliente. Trata-se, portanto, da última etapa do atendimento de um pedido e que tem um grande peso na satisfação do comprador. Resolver essa equação é o desafio de muitos.

Delivery no estilo Jetsons

Na segunda quinzena de janeiro, quando a Anac liberou o iFood para fazer delivery por drones em todo o Brasil, a sensação era de que o futuro bateu em nossa porta. Conversas com telas para ver a pessoa do outro lado, máquinas de teletransporte e carros voadores. Tudo isso permeava nossa imaginação em obras de ficção científica. O teletransporte os cientistas ainda estão devendo, os carros voadores parecem estar a caminho, mas pelo menos o “delivery voador” já é uma realidade, certo? Calma, não é bem assim.

Detesto colocar água no chope de quem quer que seja, mas se você estiver imaginando que o delivery por drones será uma coisa futurística meio “Jetsons”, onde uma máquina entrega o Temaki Hot Philadelphia do seu restaurante japonês diretamente na janela do consumidor, pode esquecer. Na prática, a notícia chama mais atenção pelo teor inusitado por ser uma novidade que propriamente por ser uma inovação que irá remodelar uma cadeia logística já bastante complexa.

Apesar de ser tratada pelo iFood como um “marco na aviação", já que a iniciativa é pioneira nas Américas, segundo comunicado da empresa, os drones fazem apenas uma parte do trajeto: eles levam os pedidos até um droneport (área específica e segura para pousos e decolagens de drones), onde são coletados por um parceiro entregador do iFood que completa a entrega fazendo o transporte até a porta dos clientes. Ou seja: os drones não irão substituir as motos. Pelo contrário: haverá no mínimo mais um ator envolvido na operação deste tipo.

Os resultados dos testes realizados pelo iFood animaram a empresa: no fim de 2021, por exemplo, foi testado um trajeto entre duas cidades: Aracaju e Barra dos Coqueiros. O drone atravessou o rio Sergipe a partir do Shopping RioMar Aracaju e percorreu 2,8 quilômetros até Barra dos Coqueiros. Driblando o trânsito na capital sergipana, a viagem pelo ar levou 5 minutos 20 segundos, contra a estimativa de 25 a 55 minutos do trajeto terrestre. A superação de obstáculos físicos é mais um indicativo que a aplicabilidade dos drones estará ligado à situações específicas, como por exemplo atravessar uma rodovia congestionada ou um rio.

Então, caro amigo, respondendo diretamente à pergunta que dá nome a este artigo: não, o delivery por drone não vai resolver o desafio da última milha. Em um ecossistema ainda não tão equilibrado nas relações entre empreendedores e empresas de marketplaces, talvez tão importante quanto a redução no tempo, seja o custo financeiro embutido nessa operação e uma justa distribuição de dores e delícias entre os componentes envolvidos neste universo.

As nem tão saudáveis altas taxas pagas pelos empresários sempre foi uma pedra no sapato. Nessa equação, vale a pergunta: a soma de mais um aparato tecnológico e mais atores (afinal o drone não se pilota sozinho nem pousa em um terreno qualquer) terá um reflexo de aumento para o empresário e para o cliente final? A resposta parece óbvia. Se já há discussões trabalhistas e uma incessante busca por mão-de-obra envolvendo entregadores parceiros, há de se afinar muito os termos para que os “pilotos de drone” de fato decolem em céus limpos. O delivery estilo Jetsons um dia virá, mas não amanhã.

*Danilo Viegas é jornalista, chefe de redação da revista Bares & Restaurantes e apresentador do podcast O Café a Conta

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