A valorização das mulheres no setor passa pelo reconhecimento das lutas diárias e por ações afirmativas genuínas que não se limitem a campanhas publicitárias para enfeitar a imagem das organizações
Quantas empresárias de bares e restaurantes você conhece? No segmento, a força de trabalho feminina é a cara do Brasil: são mulheres de diferentes origens, cenários e motivações que movimentam as engrenagens do empreendedorismo no país.
Dados do IBGE analisados pela Abrasel apontam que elas representam 54% da força de trabalho formal do setor e 56% da informal, somando mais de 1,6 milhão de trabalhadoras. Mesmo diante dessa participação intensa, ainda existem barreiras no mercado que vão além a inequidade salarial.
A discriminação de gênero também passa, por exemplo, pelo questionamento da competência e credibilidade das profissionais (que pode ser agravado por questões raciais), o que entrava a conquista de cargos de liderança ou importuna as mulheres que conseguem alcançá-los.
A ilusão de que papéis de liderança e empreendedorismo sejam “coisa de homem” age para descreditar o papel feminino, e não é coerente com a capacidade e potencial de mulheres exercerem carreiras excepcionais.
Afinal, a realidade é bem diferente. Segundo uma pesquisa realizada pela Abrasel em parceria com o Sebrae, as mulheres representam 46% do total de empreendedores do setor, levando-se em conta desde o modelo MEI a negócios que operam em sociedade.
Reconhecer esse quadro é o primeiro passo para amenizar as desigualdades provocadas por questões de gênero. O dia da mulher é uma oportunidade para estabelecimentos do setor se atentarem à importância de ações afirmativas.
Para que essas ações sejam bem-sucedidas e alcancem os efeitos pretendidos, é importante que elas sejam sustentadas pela cultura da organização. Levantar uma bandeira para o público sem realmente acreditar em seus valores é uma ação fácil de ser desmascarada e que não agrega para a experiência dos clientes.
É fácil lançar campanhas publicitárias que beneficiem a imagem da marca usando o dia da mulher como estampa, mas isso por si não é valorizar as profissionais que contribuem com a operação.
Em qualquer área de atuação dentro do negócio, a resposta passa por um ambiente seguro, que seja estimulante profissionalmente e vá ao encontro das necessidades de funcionárias mulheres. Dessa forma, ainda é construído um bom relacionamento interno que contribui para a organização a curto, médio e longo prazo.
Para criar e desenvolver ações afirmativas em apoio às mulheres, é importante ter atenção ao processo. Assim, não são cometidos deslizes, como o uso de um tom ambíguo ou condescendente que invalide a mensagem e transforme a ação em uma gafe – coisa em que o público repara.
Além disso, a boa intenção não basta. É preciso que as ações sejam eficientes. Para isso, devem partir de premissas bem formuladas e que transmitam não apenas empatia ou admiração, mas também respeito e uma crença verdadeira na mensagem.
*Flávia Madureira é jornalista e repórter da revista Bares&Restaurantes